segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A nova era do jornalismo esportivo

Por Cláudio Felipe, Lívia Bueno, Michelle Sarmento, Rayane Marcolino e Victor Menezes

Criado em 1931 por Argemiro Bulcão, o Jornal dos Sports ganhou importância a partir da década de 40. Essa evolução do veículo aconteceu devido ao trabalho de Mário Rodrigues Filho que, com seu olhar jornalístico inovador, comercial e até sentimental, transformou, não só praticamente por completo o JS, como todo o jornalismo esportivo, que passou a ser dividido entre antes e depois de Mário.

Novo modo de se fazer jornalismo

Cinco anos após sua primeira edição o Jornal dos Sports já passava por uma crise e foi vendido a José Bastos Padilha, na época presidente do Flamengo. Padilha pretendia transformar o jornal em um veículo totalmente dedicado ao clube que presidia. Porém, Mário Filho, convidado a fazer parte da equipe do JS, o convenceu a manter o jornal como um veículo de todos os esportes, e conseguiu, pensando no imenso público que teriam se não focassem apenas em um clube. “Além de bom jornalista, ele tinha visão comercial.” Afirmou Roberto Assaf, jornalista esportivo, autor de 13 livros sobre futebol.

Ao comparar os exemplares produzidos antes da direção de Filho, podemos ver a enorme diferença. Nas unidades anteriores à década de 40, percebe-se um modo totalmente diferente de tratar o esporte e, principalmente, os atletas. “Mário Filho começou a mostrar para as pessoas que o esporte vai muito além dos campos, das quadras ou das pistas de corrida, e como ele pode afetar a sociedade como um todo.” Afirmou Assaf.

Em um exemplar do JS de 18 de março de 1931, por exemplo, há uma matéria sobre um treino, ocorrido no dia anterior, no Botafogo. Percebe-se na matéria o jeito frio como a notícia era tratada, sendo apenas um relato rápido dos fatos:

“O campeão treinou hontem. Os teams: A – Zito; Dedé e Octacólio Burlamarqui; Martini e Pamplona; Ariza, Paulinho, Juca, Nilo e Celso.

B – Pedrosa; Benedicto e Rodrigues; Ariel, Tupy e Canalli, Ministrinho, Leite II, Alkindar Luiz e Maciel.

Venceu o A por 5 x 2.”

Já num exemplar de 5 de janeiro de 1940, na descrição de um treino do Madureira se nota uma diferença logo na introdução da matéria, que nessa época era também mais longa:

"O tricolor suburbano que fez destacada exibição no terceiro turno já começou a se preparar em face mesmo de haver terminado o período de férias que concedeu a todos os jogadores. " (...)

Em uma matéria recente, como a do exemplar do JS de 26 de outubro de 2009 sobre a possível volta do Vasco à primeira divisão, fica claro que no jornalismo atual há uma enorme consideração pela opinião dos envolvidos, principalmente os jogadores, e aquilo que vai além do desempenho físico como o histórico do time, condições de tempo ou campo e psicológicas, fatores que afetam no resultado dos jogos.

“Com a classificação garantida, o time de Dorival Júnior agora vai em busca do título. Quem fala sobre a nova meta, e toda a pressão que os jogadores sofrem e sofrerão para conquistar o título é o goleiro Fernando Prass: ‘A pressão foi, é e será grande. Relaxar só depois do jogo contra o Ipatinga’ “(...)

Apesar da influência de Mário Filho ser a base da mudança de estilo exemplificada nas matérias acima, o grande diferencial do jornalista estava mesmo em suas crônicas, que no JS se tornaram mais críticas e analíticas, com uma visão mais ampla e, muitas vezes, emocionantes. “Eu poderia estar exagerando, mas acredito que todas as editorias foram influenciadas pelo ‘modo Mário Filho’ de se fazer jornalismo.”comentou Assaf, afirmando que até em editoriais políticas, por exemplo, a prática de se pensar na pessoa que existe por trás daquele cargo é usada.


Mudanças gráficas e editoriais

Dentro da redação Filho reorganizou o modo de se fazer o JS. Os jornalistas começaram a ser pautados, designados a exercer certas funções específicas, e a assinar as matérias. A diagramação, que até então era confusa, misturava matérias e anúncios, sem destaque e definição, sem grandes chamadas, exceto na primeira capa, e matérias dispostas em finas colunas como em classificados, também foi mudada. A evolução do jornalismo impresso, aliada ao trabalho do redator chefe do JS, organizou o jornal, de modo que a diagramação ficasse mais clara e objetiva, com seus devidos destaques e distinção entre conteúdo jornalístico e publicitário. Assim, o jornal que a princípio circulava com apenas quatro ou seis páginas por dia, ganhou mais conteúdo, aumentando seu número de páginas.

Mas, o incremento do jornalismo esportivo não se deve apenas a Mário Filho. O rádio se tornava cada vez mias popular no Brasil, e as transmissões esportivas também. Por isso, o jornalismo esportivo precisou se reinventar para atrair as pessoas que já sabiam do jogo pelo rádio e precisariam buscar algo mais.

O Criador de Multidões

Na década de 50, o JS já havia se firmado como jornal esportivo e caminhava para o a auge alcançado nas décadas de 60 e 70. A crescente popularidade do JS também se deve a Mário Filho. A criação de eventos e disputas (pacíficas) entre torcidas embalavam a multidão e garantia notoriedade ao veículo. Entre esses eventos estavam os famosos Jogos da Primavera ou apenas disputas como a de qual seria a torcida mais bonita num determinado clássico de domingo. Por isso, o inesquecível jornalista ganhou de seu, não menos famoso e importante, irmão, Nelson Rodrigues, o apelido de Criador de Multidões.

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