Jornalista esportivo e autor de 13 livros sobre futebol, Assaf conta sua experiência no JS, lamenta a situação atual e afirma que sim, o jornal poderia ser como antes.
Entre uma aula e outra, o professor das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha) aproveitou para falar sobre o Jornal dos Sports. Roberto Assaf revela que o veículo teve imensa importância na modernização do jornalismo esportivo. Ele conta que, na década de 30, quando Mario Filho assumiu o jornal, matérias sobre comportamento ganharam espaço. A vida dos jogadores e a história de clássicos como Fla-Flu, por exemplo, substituíram um “jornalismo primário e básico”, que antes só reportava notícias dos clubes. “Mário Filho inventou a pauta, trazendo algo diferente para a redação”, afirma Assaf.
O jornalista, que atua no ramo há 30 anos, teve seu primeiro contato com jornalismo impresso no Jornal dos Sports. No final de 1981, estagiou por seis meses na redação, acompanhando repórteres em clubes e eventos, e eventualmente escrevendo textos.
Na época, tinha como referência o jornalista Geraldo Romualdo da Silva, que fazia parte de “um time muito bom” de profissionais do JS, entre eles Nelson Rodrigues e Luiz Bayer. Nas vésperas da Copa do Mundo de 1982, na Espanha, Assaf pediu para integrar a equipe que iria ao evento. “Eu ia pagar a passagem do meu bolso”. Após a recusa por ser um estagiário, abandonou o jornal e viajou para a Espanha por conta própria.
Atualmente no diário Lance!, Assaf afirma que o JS era como uma bíblia no seu tempo. Como não havia televisão a cabo, nem internet, as informações não chegavam com facilidade, e o JS era um jornal detalhado sobre futebol. “Era um jornal bem feito, que obtinha informações de fora, de agências de notícias”. Hoje em dia, o veículo se propõe a fazer uma cobertura neutra do futebol carioca, se tornando um jornal pequeno. “É como se tivesse na série B, brigando praa sobreviver. Se ele tivesse forte, seria ótimo”, lamenta.
Em comparação com o Lance!, o jornalista afirma que o diário tem um melhor poder de alcance, pois tem “recursos para fazer uma circulação maior”, com quatro edições diárias (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e nacional). “Jornal dos Sports era o Lance! no meu tempo de criança”, conclui.
Na década de 1960, quando o futebol brasileiro estava em uma ótima fase, o Jornal dos Sports teve seu auge. Após um clássico Fla-Flu, por exemplo, a venda chegava à cerca de 150 mil exemplares. Infelizmente, em meados de 1980, o jornal começou a decair. “Um inteligente, o qual não me lembro o nome, imaginou que seria um grande negócio misturar sangue com esporte”, conta o jornalista. A partir de então, passaram a estampar nas capas do jornal fotos de cadáveres. O resultado foi o pior possível: o jornal perdeu sua característica e seus leitores.
“Quem gostava de futebol parou de comprar, quem não comprava não passou a comprar por causa dos cadáveres. A revista Placar já tentou isso também, com mulheres nuas, e não deu certo”, afirma Assaf. “O cara que quer ler esporte não vai comprar o jornal se tiver mulher ou cadáver, mas sim futebol”, completa.
Outro grande problema citado pelo jornalista é o fato de que o jornal é de propriedade de pessoas que não são do ramo. Pessoas que não tem conhecimento no assunto, e que nunca participaram do dia-a-dia da redação. “Se eu abrisse uma lanchonete, por exemplo, iria falir em três dias”.
Roberto Assaf afirma que o Jornal dos Sports tem chances de voltar a ser como antigamente, mas que precisaria de ajuda financeira para isso. “O grande problema é dinheiro”. Para o jornalista, a solução seria fazer uma distribuição gratuita do jornal durante dois ou três meses. Não seria uma distribuição aleatória, mas de forma pensada e estudada. “Todo mundo sabe que a venda na banca não sustenta o jornal. O JS só teria a ganhar com isso”, garante. “Muitos jornais fazem isso. É uma forma de lembrar as pessoas que ele ainda existe”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário