quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Ano em que o time de São Januário conquistou o Campeonato Brasileiro em cima do Cruzeiro

por Rafael Lima (profetadeathmetal@gmail.com)

No ano de 1974 – ano em que o Brasil (recente tri-campeão mundial) ficou em 4º lugar na Copa do Mundo realizada na Alemanha – a capa do “Jornal dos Sports” trouxe no dia 2 de Agosto a conquista do Campeonato Brasileiro pelo Vasco com a seguinte manchete:

http://www.netvasco.com.br/

No dia 1º de Agosto, o Clube de Regatas Vasco da Gama ganhou a Raposa por 2 a 1, no Estádio do Maracanã, e consagrou-se a primeira equipe carioca a conquistar um título em um torneio nacional. No quadrangular final, Cruzeiro e Vasco ficaram empatados no primeiro lugar com os mesmos números de pontos e tiveram que realizar um jogo extra para decidir o campeão. Pelo regulamento, o mando de campo favorecia a equipe que obtivesse a melhor campanha durante o campeonato. Em virtude da melhor campanha do Cruzeiro (38 pontos contra 34 do time Cruzmaltino), o jogo foi marcado para ser realizado no Mineirão.
Entretanto, no jogo realizado entre as duas equipes na segunda rodada do returno, o Vice-Presidente do Cruzeiro, Carmine Furletti, invadiu o campo de jogo e tentou agredir o árbitro Sebastião Rufino após um lance envolvendo Palhinha (Cruzeiro) e Joel (Vasco) na área do clube carioca. Em função desse incidente, a equipe de São Januário valeu-se do artigo 59 do regulamento para pedir uma possível inversão de mando de campo. A Confederação Brasileira de Desportos (entidade brasileira responsável pela organização de todo esporte no país) acatou o regulamento e transferiu o jogo para o Maracanã.
O jogo foi eletrizante devido à anulação de dois gols, um para cada time. Ademir marcou o primeiro gol para equipe do Vasco, aos 14’ do primeiro tempo. Nelinho descontou para Raposa, aos 19’ do segundo tempo. E, Jorge Carvoeiro, aos 33’ marcou o gol do título para a equipe Cruzmaltina.


PRIMEIRA FASE
Na primeira fase, os clubes foram divididos em dois grupos com 20 equipes cada. Jogaram dentro das chaves em jogos só de ida. Classificaram-se para a segunda fase os 22 melhores colocados, independente do grupo, mais dois clubes pelo critério de maior média de renda, dentre os desclassificados: Nacional-AM e Fluminense-RJ.

SEGUNDA FASE
Os 24 clubes foram separados em quatro grupos de seis clubes cada. Jogos só de ida, em confrontos contra os adversários do próprio grupo. Passaram adiante apenas os campeões de cada chave.

QUADRANGULAR FINAL
Os quatro finalistas formam um quadrangular disputado em jogos só de ida, por pontos corridos. Quem somar mais pontos seria o campeão, porém caso houvesse empate em pontos haveria jogo extra.

CRITÉRIOS DE DESEMPATE
1-Maior número de vitórias;
2-Maior número de pontos na 1ª Fase (valendo para a 2ª Fase);
3-Melhor saldo de gols; 4-Maior número de gols pró;
5-Menor número de gols contra;
6-Confronto direto;
7-Sorteio;

REBAIXAMENTO
Não houve rebaixamento nesta edição.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Nelson Rodrigues: O flamengo de 1911

Por: Aruan Garvizu, Helena Andrade, Julia Lagame e Nina Marques.

"Corria o ano de 1911. Vejam vocês: — 1911! O bigode do kaiser estava, então, em plena vigência; Mata-Hari, com um seio só, ateava paixões e suicídios; e as mulheres, aqui e alhures, usa­vam umas ancas imensas e intransportáveis. Aliás, diga-se de pas­sagem: — é impossível não ter uma funda nostalgia dos quadris anteriores à Primeira Grande Guerra. Uma menina de catorze anos para atravessar uma porta tinha que se pôr de perfil. Con­venhamos: — grande época! grande época!

Pois bem. Foi em 1911, tempo dos cabelos compridos e dos espartilhos, das valsas em primeira audição e do busto uni­lateral de Mata-Hari, que nasceu o Flamengo. Em tempo retifi­co: — nasceu a seção terrestre do Flamengo. De fato, o clube de regatas já existia, já começava a tecer a sua camoniana tradi­ção náutica. Em 1911, aconteceu uma briga no Fluminense. Dis­cute daqui, dali, e é possível que tenha havido tapa, nome feio, o diabo. Conclusão: — cindiu-se o Fluminense e a dissidência, ainda esbravejante, ainda ululante, foi fundar, no Flamengo de regatas, o Flamengo de futebol.

Naquele tempo tudo era diferente. Por exemplo: — a tor­cida tinha uma ênfase, uma grandiloqüência de ópera. E acon­tecia esta coisa sublime: — quando havia um gol, as mulheres rolavam em ataques. Eis o que empobrece liricamente o fute­bol atual: — a inexistência do histerismo feminino. Difícil, muito difícil, achar-se uma torcedora histérica. Por sua vez, os homens torciam como espanhóis de anedota. E os jogadores? Ah, os jogadores! A bola tinha uma importância relativa ou nula. Quantas vezes o craque esquecia a pelota e saía em frente, ceifando, dizimando, assassinando canelas, rins, tórax e baços adversá­rios? Hoje, o homem está muito desvirilizado e já não aceita a ferocidade dos velhos tempos. Mas raciocinemos: — em 1911, ninguém bebia um copo d’água sem paixão.

Passou-se. E o Flamengo joga, hoje, com a mesma alma de 1911. Admite, é claro, as convenções disciplinares que o fute­bol moderno exige. Mas o comportamento interior, a gana, a garra, o élan são perfeitamente inatuais. Essa fixação no tempo explica a tremenda força rubro-negra. Note-se: — não se trata de um fenômeno apenas do jogador. Mas do torcedor também. Aliás, time e torcida completam-se numa integração definitiva. O adepto de qualquer outro clube recebe um gol, uma derrota, com uma tristeza maior ou menor, que não afeta as raízes do ser. O torcedor rubro-negro, não. Se entra um gol adversário, ele se crispa, ele arqueja, ele vidra os olhos, ele agoniza, ele san­gra como um césar apunhalado.

Também é de 1911, da mentalidade anterior à Primeira Gran­de Guerra, o amor às cores do clube. Para qualquer um, a cami­sa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo, a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: — quando o time não dá nada, a camisa é içada, des­fraldada, por invisíveis mãos. Adversários, juizes, bandeirinhas tremem então, intimidados, acovardados, batidos. Há de che­gar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no ar­co. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável."

O manto sagrado

Por: Aruan Garvizu, Helena Andrade, Julia Lagame e Nina Marques.

"Por onde vai, o Rubro-Negro arrasta multidões fanatizadas. Há quem morra com o seu nome gravado no coração, a ponta de canivete. O Flamengo tornou-se uma força da natureza e, repito, o Flamengo venta, chove, troveja, relampeja."

"Cada brasileiro, vivo ou morto já foi Flamengo por um instante, por um dia."

- Nelson Rodrigues